10 de janeiro de 2005

Voluntariado SIM!


Ser voluntário é partilhar. Partilha não só do que possuímos, mas fundamentalmente do que somos, como reconhece Gibran, no seu livro "O Profeta", quando escreve: "Dais muito pouco, quando dais daquilo que vos pertence. Quando vos dais a vós mesmos é que dais realmente". O mundo não está a viver tempos fáceis. A indiferença perante alguns valores tem contribuído para o avolumar das muitas dificuldades existentes. O aumento escandaloso do número de seres humanos que procuram subsistir sem terem acesso ao mínimo indispensável para viver, é uma das mais vergonhosas realidades hodiernas. A pobreza e a exclusão social são aceites como inevitáveis e o facto das riquezas do mundo estarem nas mãos de um terço da humanidade, enquanto os restantes dois terços vivem em privação perturba muito poucos. Uma das formas de enfrentar as consequências nefastas do egoísmo, que gera todo o tipo de injustiças é, segundo recomendação do chamado Comité de Sábios, "Cuidar dos outros". Ser voluntário é, na verdade, testemunhar a caridade.
Solidariedade é uma atitude livre, altruísta ou filantrópica. A Caridade é um dever para quem procura pôr em prática o Mandamento Novo com todas as suas consequências, aceitando os outros como irmãos. E que "não há maior prova de amor do que dar a vida", ou seja estar ao serviço gratuito e desinteressado dos outros, que o mesmo é dizer: ser voluntário. O voluntariado social é indispensável à vida, porque possibilita a interiorização das contingências humanas; contribui para evitar maiores desigualdades; dá sentido à vida e corresponsabiliza. Pode ser ainda um meio eficaz para a transformação da sociedade, na medida em que derruba barreiras de estatutos sociais e outros; humaniza relações; tem como referência um modelo diferente de sociedade e esforça-se por tomar iniciativas pioneiras. Quem se dedica ao próximo, sem exigir contrapartidas financeiras, procura ainda ser fermento de uma acção social que se compromete com a justiça e as suas mediações, sem deixar de apelar à compaixão, à generosidade e à gratuitidade, tendo o amor como alicerce seguro. Voluntários são aqueles que, lutando contra a maré, teimam em contrariar a linguagem utilitarista e individualista da nossa cultura. São, no dizer do já citado Gibran, os "outros que têm pouco e dão tudo" e este "tudo" é, tantas vezes, parte substancial das suas posses. Por isso, o seu "cofre nunca está vazio". Outro dos sinais resultantes do testemunho dos voluntários é serem sinal de esperança para muitos. Quão maior não seria o desespero dos pobres e excluídos se, confrontados com a fragilidade da vida, não soubessem que tantos homens e mulheres, na simplicidade de um gesto de partilha, não deixam de acreditar no homem, tal como é possível acreditar na natureza, quando sabemos que mesmo no árido deserto pode desabrochar uma flor.