31 de dezembro de 2006

Cor da hospitalidade


Pego numa folha branca e num lápis de cor vermelho. Podia ser preto, azul, amarelo ou roxo…mas na realidade hoje apetece-me escrever a vermelho.Da mão soltam-se algumas letras, dos olhos algumas lágrimas e lá continua o lápis vermelho. É vermelho, simplesmente vermelho.Pode parecer uma história de doidos, mas é aquilo que sinto, aquilo que tenho vivido, que tenho conseguido assimilar e presenciar.As coisas mais banais na nossa vida podem ter sentido e quando peguei neste lápis vermelho apercebi-me que têm sido assim os meus dias: vermelho forte, corrente, profundo. Vermelho como o amor! Aquele amor que não tem preço, que não se pede, que não se exige, mas que todos temos dado uns aos outros. O meu lápis é vermelho como o amor de qualquer bom Samaritano. Nestes dias tenho aprendido que a Hospitalidade é uma panóplia de cores que se misturam fugazmente. O vermelho simboliza o amor entre todos nós e para com aqueles que tanto precisam. O amarelo…a ternura, a vontade, a disponibilidade. O azul…a calma, a paz e a tranquilidade. O roxo a animação e a conquista diária que vamos fazendo e as restantes cores, essas, são aquelas que estão escondidas em cada canto desta local onde estamos.Se pensam que a magia é coisa de mágicos ou ilusionista…enganem-se. Aqui, sim aqui, há magia. Há magia no Voluntariado, na Caridade, na Solidariedade. Não sejamos como o especialista de leis, como o sacerdote e como todos aqueles que não vivem com fé. Sejamos leais e façamos o que o nosso coração mandar. Sejamos a luz das trevas que acompanha o encanto dos doentes que nos rodeiam; sejamos a esperança do amanhã e lembremo-nos sempre que aqueles que, por vezes, parece que menos precisam…são os que mais têm de ser ajudados. Acredito que na minha, na tua, na nossa vida há um lápis de cada cor. Não escolhas a melhor cor a usar perante as situações; simplesmente vive-as. Os lápis aparecerão…um de cada cor…cada um com um significado. Há cores que não passam de moda e a da hospitalidade é uma delas.

Desilusão

Caminhamos pela vida, alternando momentos de entusiasmo com momentos de ilusão. Por vezes sentimo-nos completos como velas e caminhamos velozes pelo mar do mundo, por outro lado, situações em que nos encontramos murchos como folhas que o tempo enrugou. Vivemos momentos mágicos, em que caminhamos sobre as nuvens, o arco-íris e tudo nos parece fantástico e outros tão cinzentos… em que a vontade é a de adormecer e ficar assim durante o tempo necessário para que tudo voltasse a ser brilhante. Acontece a todos e constitui, sem dúvida um sinal de imaturidade. Ainda somos infantis em variados aspectos. A verdade é que não temos razões suficientes para nos deixarmos levar demasiado por entusiasmo, pois já deveríamos ter aprendido que nem todos os momentos podem ser duradouros… A vida sim, nada pode ser mais duradouro do que isso.
Ao desejarmos muito uma coisa, pensamos que se a alcançarmos obtemos uma espécie de céu, lutamos com todas as nossas forças mas, quando finalmente conquistamos o desejado, passamos por duas fases desconcertantes… Primeiro, por um medo terrível de perder o que conquistamos: porque temos consciência de situações semelhantes a nossa; existe a traição, a paixão, o amor carnal e não espiritual… Depois, a fase que chega com o tempo e que não costuma demorar muito… sucede que aquilo que obtivemos perde – lentamente ou de um dia para o outro – o encanto.
Perdeu-se o mágico, desfez-se o algodão das nuvens, o arco-íris perdeu a cor… o que já não nos proporciona o paraíso imaginado. É aqui, neste momento que surge a desilusão, com todo o seu cortejo de possíveis consequências desagradáveis: distanciamo-nos um pouco de tudo.
Aqui, surge o desejo de partir em busca de um outro entusiasmo, o querer voltar a amar… nunca mais conseguimos aprender o que é o amor no verdadeiro sentido da palavra.
Se nos desiludimos, a culpa não está nas coisas nem nas outras pessoas, mas sim em nós porque nos deixamos iludir, porque nos deixamos guiar por uma ilusão.
Uma ilusão, ilusão… como que o vestir um traje excessivo e falso da realidade, de modo a distorcê-la ou fazê-la parecer mais do que aquilo que é.
Quando nos desiludimos, não estamos a ser justos, nem com as pessoas, nem com as coisas.
Nenhuma pessoa, nenhuma das coisas com que lidamos pode satisfazer plenamente o nosso desejo de bem-estar, de felicidade, de magia, pois não são perfeitas (só a ilusão pode, temporariamente, fazer-nos ver nelas a perfeição), também por não serem incorruptíveis, eternas: apodrecem, gastam-se, enrugam-se, engordam, quebram-se... terminam. Aquilo que procuramos é perfeito e não tem fim. E não nos contentamos com menos do que isso. Por tudo isto que nos desiludimos e que de novo nos iludimos: andamos em busca, a procura... Por fim, se todos ambicionamos um bem perfeito e eterno, este deve existir. Só pode acontecer que exista. Mas deve ser preciso procurar num lugar mais adequado.